28 de maio é o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher, que foi definido no IV Encontro Internacional Mulher e Saúde, ocorrido em 1984, na Holanda, ocasião em que a morte materna apareceu com toda a sua magnitude.
Os estudos sobre a saúde feminina se originaram ainda na Antiguidade, porém o corpo feminino era considerado uma versão imperfeita e inferior ao “normal”, que seria o corpo masculino. A mulher do século XIX é vista como uma eterna doente, frágil, e estes rótulos colaboraram para afastá-las de outros ambientes senão o doméstico e o de cuidados familiares.
Assim, ao longo da história, a saúde da mulher foi - e ainda é - majoritariamente reduzida aos aspectos sexuais reprodutivos, já que estes são os que importam para a manutenção do capitalismo e do patriarcado.
Considerar a saúde feminina digna de atenção apenas quando a serviço da reprodução humana moldou um sistema social e cultural onde as mulheres passaram a ter seus corpos controlados, além de seus comportamentos e funções domesticadas.
O funcionamento do clitóris, por exemplo, foi negligenciado e marginalizado quando, ao longo da história, médicos e cientistas não deram a devida atenção para estudar este órgão. Práticas como a clitoridectomia (remoção do clitóris) foram realizadas a fim de “tratar” a histeria e a masturbação feminina. Parece que, por um longo período, a ideia de um órgão feminino cuja única finalidade é proporcionar orgasmos, se mostrou inconcebível para os homens da ciência.
Ao nos atentarmos à pluralidade dentro da própria população feminina, podemos questionar quais mulheres possuem de fato acesso ao que é necessário para serem saudáveis. Fatores econômicos e raciais interferem diretamente neste aspecto. De acordo com o dossiê “Assimetrias Raciais no Brasil: alerta para elaboração de políticas” (2003), da Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, questões raciais impõem um desafio à formação de políticas públicas por conta da distância que existe entre os níveis de bem-estar da população branca e os da afrodescendentes em todas as regiões do País.
Quando falamos sobre saúde de mulheres alcoolistas, os estudos são ainda mais recentes e precários. O alcoolismo foi associado quase exclusivamente ao sexo masculino durante muito tempo. Mulheres são mais julgadas ao beberem, e ficam mais vulneráveis às violências físicas, sexuais, psicológicas e patrimoniais quando embriagadas. Assim, uma parte delas acaba se isolando para conseguir proteger o consumo, bebendo longe dos olhares alheios. Este comportamento dificulta a percepção de que a relação com o álcool já virou uma doença e que a saúde destas mulheres precisa de atenção.
Outro problema é o julgamento de profissionais de saúde despreparados para acolher devidamente mulheres alcoolistas. Não é incomum que estes profissionais reproduzam preconceitos e violências em suas práticas, afastando ainda mais as mulheres que precisam de tratamento.
Portanto, a importância deste dia ainda se faz necessária. Mas saiba, leitora, que é exatamente através da luta que você encontrará o caminho da saúde em sua recuperação. Existe um mundo nos querendo adoecidas, para ficarmos exatamente onde somos mais “úteis”. Lute pela sua sobriedade e pela sua saúde - ela é só SUA. Se aproprie do seu corpo, da sua alimentação, do seu descanso, do seu prazer, da sua produtividade, do seu autocuidado e das relações que te fazem bem.
Se não for saudável, não é para você. Faça uma revolução lutando pela sua saúde.
Fontes:
A Saúde da Mulher AINDA importa! <https://bvsms.saude.gov.br/a-saude-da-mulher-ainda-importa-28-5-e-dia-internacional-de-luta-pela-saude-da-mulher-e-dia-nacional-de-reducao-da-mortalidade-materna/>. Acesso em 26/05/24.
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher - Princípios e Diretrizes. <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nac_atencao_mulher.pdf>. Acesso em 26/05/24.
MARTINS, APV. Visões do feminino: a medicina da mulher nos séculos XIX e XX [online]. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004, Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.
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