Na crítica temos a oportunidade de nos conhecermos, melhorarmos e aprimorarmos o nosso comportamento. Nem sempre é fácil receber uma crítica, até porque muitas vezes ela não é feita de forma assertiva mas, como não temos controle sobre o(a) outro(a), é importante que aprendamos a receber e a responder as críticas, independente de como elas sejam feitas, de forma assertiva.
No período em que estivemos ativas no alcoolismo as pessoas da nossa convivência (familiares e amigos(as)) também adoeceram. No entanto, na maioria das vezes, eles demoram mais em reconhecer o próprio adoecimento. Pode acontecer de nós estarmos em tratamento e eles não. Ao nos educarmos, nossas mudanças podem inspirar e contribuir na recuperação deles também, ajudar a recuperar as relações de confiança e consequentemente melhorar a convivência.
Existem 2 tipos básicos de crítica:
CONSTRUTIVA ou ASSERTIVA: é dirigida ao comportamento e/ou ao fato, e não à pessoa. A pessoa fala daquilo que sentiu ou das consequências de determinado comportamento do outro(a) e pede alguma ação, alguma mudança.
DESTRUTIVA ou AGRESSIVA: aqui a intenção é a de magoar, ofender ou provocar uma briga. A pessoa foca na outra pessoa, usa palavras como NUNCA ou SEMPRE, ofende e faz acusações sobre coisas infundadas ou focadas no passado.
E existem 4 estilos básicos de resposta:
PASSIVA: a pessoa “engole sapo” por achar que não tem direito, que vai ser rejeitada ou abandonada se gerar um conflito.
AGRESSIVA: a pessoa acha que só ela tem direito, que só ela pode falar, e o faz de forma agressiva, seja em atitudes ou mesmo na forma de se expressar.
PASSIVA AGRESSIVA: a pessoa responde com dupla mensagem (concorda, mas sai batendo porta, por exemplo), não fala com clareza, usa de sarcasmo, piadinhas e outras formas de agressão indireta.
ASSERTIVA: a pessoa sabe que tem direitos e fala com clareza e tranquilidade. A assertividade consiste, inclusive, em saber o momento de calar ou falar com mais ênfase, mas de forma consciente.
Precisamos aprender a receber críticas para:
Evitar brigas e discussões.
Tentar entender a informação construtiva na crítica.
Ajudar a outra pessoa a comunicar-se de forma mais assertiva também.
EXEMPLO:
Você está em abstinência, mas chega em casa atrasada, sem avisar e com o celular descarregado. A pessoa poderia te receber e criticar de forma construtiva, mas o mais provável é que não seja assim, porque ela também está adoecida e tem uma tendência a associar todo nosso comportamento que fuja do esperado à bebida, seja porque leva algum tempo para as pessoas baixarem a guarda e voltarem a confiar, seja porque se preocupam e não sabem expressar essa preocupação de forma assertiva. No entanto, lembremos que não temos poder sobre o outro, somente sobre nós e que, respondendo de forma assertiva, podemos contribuir de forma assertiva para melhorar essa relação.
CRÍTICA CONSTRUTIVA OU ASSERTIVA:
Como você estava atrasada e não consegui contato, fiquei preocupado(a) porque não sabia o que pensar. Gostaria que você mantivesse o celular ligado e avisasse quando precisasse chegar mais tarde, assim ficarei mais tranquilo(a).
CRÍTICA DESTRUTIVA OU AGRESSIVA (mais comum no início da recuperação):
Por que não ligou? Desligou o celular pra eu não conseguir te encontrar e poder beber? Você não muda, você é irresponsável, dissimulada!
Devemos ter em mente que independente da forma que seja a crítica nós precisamos aprender a receber e responder, sem brigar ou engolir, porque como sabemos o alcoolismo é a doença das emoções e, tanto brigar quanto engolir é um grande gatilho para beber.
RECEBER A CRÍTICA DE FORMA ASSERTIVA
Seguem orientações para receber uma crítica de forma assertiva:
Não ficar na defensiva.
Não discutir.
Não contra-atacar.
Procurar identificar qual a preocupação, o sentimento que a pessoa está querendo expressar.
Se necessário, perguntar de forma clara e sincera o que realmente o(a) está incomodando, para que você possa compreendê-lo(a), como por exemplo: “Por que você fica tão chateado(a) com o tempo que participo das reuniões, o que te preocupa? O que você gostaria que eu fizesse?”
Procure identificar o que tem de verdade na crítica e concorde com o que faz sentido pra você, reformulando o diálogo. Por exemplo, você chegou tarde e a pessoa te acusou de ter bebido mesmo sem ter acontecido, você pode responder: “Realmente cheguei tarde e entendo que você tenha ficado preocupado(a) porque quando eu bebia eu chegava tarde ou nem chegava, mas hoje eu me atrasei por causa………………………………..e não consegui avisar por causa………………………………………..”
Proponha ou combine uma mudança de comportamento com a qual você consiga se comprometer (estabelecer compromisso) de forma a trazer mais tranquilidade e confiança para a relação como, por exemplo: “Quando eu precisar me atrasar vou te avisar e ficarei mais atenta com a bateria do celular.”
EXERCÍCIOS:
Imagine a seguinte situação: Você está em sobriedade há cerca de 3 meses, chega em casa atrasada, após um longo dia de trabalho e mesmo não tendo bebido nada, está com os olhos vermelhos, deprimida e irritada. A pessoa te recebe, cheira a tua boca e dispara: “Você bebeu novamente, né?”
Analise e escreva opções de como você poderia responder de forma assertiva.
Lembre de uma crítica que recebeu e responda:
Qual foi a situação?
Qual foi a crítica? Como foi?
Como se sentiu?
Como reagiu?
Qual foi o estilo da sua resposta?
Você consegue identificar qual era a real preocupação e/ou intenção da crítica?
Como você poderia ter sido assertiva?
Qual o compromisso que você poderia ter proposto/assumido?
Repita esse exercício quantas vezes achar necessário, ok?
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Todas as atividades do nosso Baralho da Recuperação, divulgadas do dia 16 a 31 de dezembro, foram propostas durante o ano, em nosso grupo terapêutico de prevenção de recaídas, pela psicóloga e vice-presidente da nossa Associação, Cláudia Leiria (@psiclaudialeiria)
Referências Bibliográficas - São ótimas dicas de leitura e para presentear também!
Tratando a dependência de álcool - um guia de treinamento das habilidades de enfrentamento - 2ª edição. Autores: Peter M. Monti, Ronald M. Kadden, Damaris J. Rohsenow, Ned L. Cooney e David B. Abrams. Editora: Roca.
Conhecer-se é amar a si próprio - exercícios para desenvolver a autoconsciência e para realizar mudanças positivas e encorajadoras. Autores: Lynn Lott, Marilyn Matulich Kentz e Dru West. Editora: Manole.
Caderno de exercícios para cuidar de si mesmo - 3ª edição. Autora: Anne Van Stappen. Editora: Vozes.
Caderno de exercícios de inteligência emocional - 2ª edição. Autor: llios Kotsou. Editora: Vozes.
Caderno de exercícios para viver sua raiva de forma positiva. Autor: Yves-Alexandre Thalmann. Editora: Vozes.
Dinâmicas de grupo e atividades clínicas aplicadas ao uso de substâncias psicoativas. Organizadoras: Neliana Buzi Figlie e Roberta Payá. Editora: Roca.
Tratamento do uso de substâncias químicas - Manual prático de intervenções e técnicas terapêuticas. Organizadores: Ronaldo Laranjeira, Helena M. Takeyama Sakiyama e Maria de Fátima Rato Padin. Editora: Artmed.
Programa Terapêutico para o tratamento da dependência química. Autora: Luana Gama Wanderley Leite. Editora: Edições Loyola.
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A Associação Alcoolismo Feminino existe para ajudar mulheres em sofrimento pelas consequências de seu modo de beber, por meio de um espaço de acolhimento, compaixão e respeito, sem julgamentos nem preconceitos.
Se você precisa de ajuda, entre em contato conosco pelo site: ww.associacaoaf.org/queroajuda
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