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Importância do psiquiatra no tratamento do alcoolismo

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Está bem consolidado na literatura científica que o tratamento do Transtorno por Uso de Álcool (TUA) exige um trabalho multiprofissional e interdisciplinar, de profissionais com conhecimento técnico especializado nessa área de cuidado. O plano de tratamento prevê um acompanhamento longitudinal e individualizado, com múltiplas intervenções sinérgicas, sendo necessário a avaliação regular de especificadores como o padrão de consumo atual, estágio de motivação do paciente, engajamento no tratamento, presença de comorbidades clínicas e psiquiátricas, para ajuste das medidas propostas ao longo do tempo. As evidências indicam que abordagens psicossociais e farmacológicas combinadas apresentam resultados melhores do que quando aplicadas isoladamente.

 

Detalhando os diversos componentes do tratamento do uso abusivo de álcool, falaremos aqui sobre a importância do acompanhamento psiquiátrico e o papel que o psiquiatra exerce ao integrar esse cenário complexo e multidisciplinar. Considerando-se a condição crônica do TUA, faz-se necessário um acompanhamento a longo prazo pelos profissionais implicados no cuidado, em vista disso, o psiquiatra tem, em primeiro lugar, o papel de promover uma boa relação médico-paciente, desenvolvendo um vínculo de confiança, a partir do qual seja estabelecido um canal de comunicação eficiente com o paciente. Esse diálogo possibilita o fornecimento de informações técnicas especializadas importantes e a psicoeducação do paciente sobre sua condição de saúde e a disponibilidade de recursos para seu tratamento ao longo do tempo. Sendo essa uma via de mão dupla, por meio desse canal de troca, o paciente também compartilha informações atualizadas acerca de seu quadro, trazendo suas percepções e preferências ao longo do tempo, podendo participar ativamente das tomadas decisões e do desenho do seu projeto terapêutico individual. O psiquiatra torna-se mais uma referência acessível ao paciente na sua rede de cuidado multidisciplinar em saúde no decorrer do acompanhamento e que, além de manter um diálogo contínuo com o paciente e sua rede de apoio, se mantém alinhado aos demais profissionais implicados no caso, funcionando como uma equipe de cuidado integrada e coesa.

 

A psiquiatria sendo uma especialidade médica se propõe a identificar a presença de sinais e sintomas, podendo diagnosticar condições clínicas e psiquiátricas, e a indicar propostas terapêuticas adequadas. A associação de um tratamento farmacológico ao projeto terapêutico no uso abusivo do álcool pode ser empregada tanto no manejo da intoxicação aguda e síndrome de abstinência do álcool, como na abordagem da dependência em si e na prevenção de recaídas ao longo da recuperação. Além do papel relevante no manejo de sintomas e condições clínicas diretamente relacionados ao TUA, o uso de fármacos está indicado no tratamento de quadros psiquiátricos comórbidos, que são comuns nessa população e que podem ocorrer concomitantemente, afetando diretamente o estado de saúde do indivíduo e a eficácia do tratamento do alcoolismo.

 

O arsenal farmacológico tem um papel importante na desintoxicação e manutenção da abstinência do álcool, auxiliando no controle das consequências clínicas da suspensão aguda do uso de álcool, reduzindo o surgimento de sintomas de abstinência nessa população e, posteriormente, auxiliando a reduzir o risco de recaídas no período de manutenção do tratamento. O uso de fármacos no período de recuperação também tem como alvo reduzir sintomas apresentados ao longo da fase de manutenção da abstinência do álcool que podem impactar a qualidade de vida do paciente e dificultar a adesão ao tratamento, como insônia e outras alterações do ciclo sono-vigília, alterações no apetite, sintomas ansiosos e do humor, alterações no peso e metabolismo.

 

Como mencionado, além de tratar diretamente o transtorno por uso de álcool, essa população frequentemente apresenta outras condições clínicas e psiquiátricas que exigem tratamento farmacológico, é indispensável que haja uma avaliação periódica com intuito de investigar a presença dessas condições e propor intervenções adequadas. Entre as condições psiquiátricas mais comuns em associação a quadros de alcoolismo, estão os Transtornos no humor, como depressão maior e transtorno bipolar, Transtornos ansiosos, como TAG, Síndrome do pânico, Fobias e TEPT, Transtornos de personalidade, Transtornos alimentares, TDAH e outros transtornos por uso de substâncias ou do impulso. Além de condições psiquiátricas, existem condições clínicas que podem representar um fator de risco à ocorrência de TUA ou aparecer como consequência dele, como presença de doenças hepáticas ou do trato gastrointestinal, dor crônica e cirurgia bariátrica. Na ocorrência de diagnósticos concomitantes, é indispensável que o paciente seja adequadamente tratado para todas as condições presentes, a fim de garantir, não só, um desfecho favorável em cada condição, mas também na sua situação de saúde global e qualidade de vida.


 
 
 

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